Transição Energética versus Segurança Energética

abr. 11, 2023

Entenda a diferença entre os conceitos, sua relação com a transformação digital, qual o papel do fornecimento de energia elétrica nesse processo e como o Brasil e o mundo vêm se movimentando em direção à transição energética.

Desafio

Em meio a comunidade empreendedora e científica, há quem diga que a transição energética é o principal desafio do século XXI. Ainda que os seus benefícios sejam, em um primeiro momento, ambientais, eles são responsáveis por gerar impacto positivo na economia, no desenvolvimento social, na criação dos green jobs e na manutenção do bem-estar. Acreditamos que nos próximos 20 anos a transição energética vai transformar completamente o setor de energia, assim como a internet, nos últimos 20 anos, transformou o mundo em que vivemos hoje. 


Fato é que a transição energética se tornou uma medida fundamental para auxiliar o planeta na administração dos efeitos das mudanças climáticas. Efeitos esses que, a cada ano e com o aumento da temperatura média da Terra, percebemos de forma ainda mais intensificada: mudanças no ciclo de vida dos animais, extinção de espécies, derretimento das geleiras, furacões, incêndios, enchentes e demais fenômenos, os quais chamamos de “desastres naturais”. 


Uma das mais relevantes causas dessas mudanças climáticas está atrelada às emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, sobretudo o dióxido de carbono. E é aqui que entra um grande desafio para o mercado de energia: grande parte do dióxido de carbono é gerado pelo setor elétrico para a produção de energia. 


A descarbonização e a busca por uma energia mais limpa tornaram-se importantes medidas para o setor – tanto que passaram a ser vistas como prioridade por governos e corporações. O governo europeu definiu um pacote de medidas para cortar as emissões de gases de efeito estufa da União Europeia em 55% até o ano de 2030. Mas essas medidas não se restringem apenas ao território europeu. A COP26 que aconteceu em Glasgow, em novembro de 2021, confirmou o acordo internacional de alcançar a Carbon Neutrality até 2050. Dessa forma, a transição energética se faz fundamental como estratégia e como caminho para atingir a economia de baixo carbono.

Mas afinal, o que é a Transição Energética?

Segundo o relatório de 2022 do Fórum Econômico Mundial, as mudanças climáticas representam o maior risco global.


A transição ou transformação energética refere-se à migração de uma matriz energética poluente, com foco em combustíveis fósseis à base de carvão ou petróleo, para fontes de energia renováveis com baixa ou zero emissão de carbono, como as eólicas, solares e hidrelétricas. Mas, é importante levar em consideração que a transição energética é uma mudança estrutural em todo o sistema. Ela não é sinônimo do simples fechamento de usinas à carvão – a transição envolve a qualidade da geração de energia, o consumo, o reaproveitamento, a eficácia energética, a gestão de resíduos e a digitalização, além da sustentabilidade ambiental e social. 


Como a energia está intimamente ligada ao cotidiano das pessoas, a transformação energética também se fez necessária em outros contextos históricos, como a Revolução Industrial em meados do século XVIII.  O carvão mineral foi o primeiro combustível fóssil a se tornar a mais importante fonte de energia mundial. Na sequência, vimos o advento do petróleo e, nesse momento em que vivemos, a relevância das fontes renováveis. 


Aqui cabe ressaltar que a transição energética para uma economia de baixo carbono é um processo gradativo. É preciso mudar paradigmas, buscar a máxima eficiência no aproveitamento dos recursos, a diversificação da matriz e a ampliação do acesso à energia.

E do que se trata a Segurança Energética?

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IAE), a segurança energética, por sua vez, refere-se à oferta e à disponibilidade de serviços energéticos a todo momento, em quantidade suficiente e a preços acessíveis. Garantir a energia a preços acessíveis para o consumidor e utilizar fontes de energia limpa que promovam a sustentabilidade e sejam capazes de mitigar os efeitos dos eventos extremos são algumas das premissas da segurança energética.

 

Mas, cabe enfatizar que a maioria das fontes renováveis de energia são intermitentes. Na definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), “energia intermitente caracteriza um recurso energético que, para fins de conversão em energia elétrica pelo sistema de geração, não pode ser armazenado em sua forma original”. Essa é uma das questões que afeta a segurança energética já que, nesse caso, a geração de eletricidade não é disponível 24 horas por dia. 


Segundo o relatório Tracking SDG 7: The Energy Progress Report – edição de 2022, no mundo existem cerca de 733 milhões de pessoas sem acesso à energia elétrica e, de acordo com as previsões, acredita-se que 670 milhões de pessoas permanecerão sem eletricidade até 2030 – totalizando 8% da população mundial. O relatório foi criado a partir de um estudo do Banco Mundial, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Divisão de Estatística das Nações Unidas (UNSD), em parceria com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) e a Agência Internacional de Energia (IEA). 


Dessa forma, assegurar a segurança energética faz parte da lista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e é uma meta a ser cumprida globalmente. 

A Transição Energética, a Segurança Energética e a relação com o ODS-7

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu em 2015 uma lista com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esses objetivos fazem parte da Agenda 2030 e devem ser alcançados pelos 193 países signatários em prol do desenvolvimento econômico, social e ambiental. 

Reconhecendo que a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), tem sido um dos principais impulsionadores das mudanças climáticas, a ONU dedicou um dos seus objetivos para a produção de energia. O ODS-7 trata da garantia de acesso às diferentes fontes de energia, principalmente às renováveis, eficientes e não poluentes.

O Pacto Global prevê: 

- assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível a energia para todas e todos; 

- aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global;

- dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética;

- reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso à pesquisa e tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o investimento em infraestrutura de energia e tecnologias de energia limpa;

- expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio.

As metas do ODS-7 estão intrinsecamente relacionadas com a transição energética e com a segurança energética. Oferta de energia constante, segura e sustentável; diversificação da matriz energética; busca da eficiência através de fontes de energia com baixa ou zero emissão de carbono; redução do impacto ambiental e do impacto econômico do custo da energia consumida são algumas dessas metas correlacionadas. 

Como o Brasil vem se movimentando para a Transição Energética?

No Brasil, estima-se que 99,8% da população brasileira já tenha acesso à eletricidade (Dados IBGE 2019). 


Um dos maiores desafios do Brasil, em se tratando de transformação energética, está em proporcionar acesso à energia gerada apenas a partir de fontes renováveis. A utilização do gás natural como combustível intermediário é uma alternativa para a transição, visto que ele tem menor emissão de dióxido de carbono quando comparado a outros combustíveis fósseis. 

Mas a boa notícia é que o país tem abundância de recursos naturais utilizados para a produção de energia limpa e já tem uma das maiores matrizes energéticas renováveis do mundo, com produção através de fontes como hidrelétricas, biomassa, solar e eólica, dentre outras - diferente do que acontece em países cuja geração de energia ainda é muito poluente. Devido à baixa participação do setor elétrico no total das emissões brasileiras de gases do efeito estufa, o país vem conquistando um bom desempenho em relação ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 da ONU (ODS-7). 


Aqui cabe um ponto interessante para a discussão: como o Brasil pode competir na corrida em direção à transição energética para vencer? Lars Frolund, professor do MIT e membro do Conselho de Inovação da Europa, levantou essa questão durante sua palestra no MIT Reap Rio. Um dos pontos centrais da resposta permeia as deeptechs


Conforme abordado pelo professor, o sucesso na jornada de transição energética será definido principalmente pelas deeptechs - empresas de tecnologia cujas soluções são compostas por hardware e se baseiam em questões tecnicamente complexas. Para alavancar as deeptechs, é necessário haver disponibilidade de novas linhas de capital privado, que respeitem objetivos orientados por propósito. A tendência, no entanto, é que a iniciativa privada não priorize esse tipo de iniciativa organicamente.  Em pautas que atingem diretamente a soberania nacional (como a segurança e a transição energética), o professor entende que o governo deve atuar dando incentivos financeiros que fomentem o desenvolvimento de deeptechs.


É importante que seja feito um novo desenho do mercado energético brasileiro para incorporar as inovações necessárias e ajustar os modelos que dependem da produção e uso dos combustíveis fósseis. Com o estímulo à expansão das fontes renováveis e os recursos naturais de que dispõe, o Brasil tem chance de disparar na transição energética. Inclusive, é isso o que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) incentiva! O Programa de PDI ANEEL passou por mudanças e, dentre as novas diretrizes, está o posicionamento do Brasil como líder da transição energética mundial, através da inovação. O Energy Future apoia e compactua com  essa iniciativa. 

A transição e a segurança energética no mundo

No quesito geopolítica, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia desde fevereiro de 2022 vem gerando instabilidade no setor energético mundial, principalmente em se tratando da cadeia de suprimentos. Por mais que estivesse trabalhando de forma intensificada em direção à transição energética, a Europa ainda depende do gás natural da Rússia para descarbonizar a cadeia. Com as sanções impostas pelo governo Putin, as nações vêm colhendo os desdobramentos globais do ponto de vista econômico por conta do desabastecimento de petróleo e gás russos. Os países do continente europeu estão preocupados com o abastecimento e seguem em busca de maior segurança energética, como é o caso da Alemanha – um dos mais empenhados na diversificação da sua matriz.


No cenário pós-pandemia (e com a Guerra Russo-Ucraniana ainda em vigor), a emissão global de dióxido de carbono associada à energia tem aumentado no mundo. De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), esse aumento foi de 6% em 2021.  O setor mundial de energia ainda é dependente da manutenção dos combustíveis fósseis, agravando assim a crise ambiental e climática. Por esse motivo, a urgência em acelerar a transição energética ficou ainda mais evidente. 


É preciso levar em conta que, cada país tem as suas particularidades e não será possível fazer a jornada da transição e da segurança energética da mesma forma - e ao mesmo tempo - em todas as nações. 

E qual o papel da digitalização na transição energética?

Transformação digital e transformação energética andam juntas no processo de modernização do setor elétrico. Como foi abordado em nosso Ciclo de Inovação com foco em Digitalização, as tecnologias digitais são responsáveis por contribuir com soluções para os desafios de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. Além disso, a digitalização é essencial para a descentralização dos sistemas energéticos, para o ganho de eficiência e para o direcionamento da transição energética, possibilitando uma nova configuração do setor, ainda mais integrado e conectado, baseando-se nos pilares da inteligência artificial e na baixa emissão de GEE. 


O Energy Future vem, ao longo dos últimos anos, trabalhando em iniciativas que conectam e integram as diversas pontas do universo da energia. Temos ciência de que a produção de energia limpa impacta não somente nas alterações climáticas, mas também no crescimento econômico, na desigualdade social e na qualidade de vida. Por isso, a transição energética é uma das pautas discutidas dentro do Ciclo de ESG. 

Para mais informações sobre o Ciclo e a Chamada Setorial, acesse: www.energyfuture.com.br/ciclo-esg

Vamos juntos criar um impacto global positivo com empresas melhores para o mundo! 

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